Falar sobre testamento ainda causa certo desconforto, e muita gente associa esse tema à ideia de fim da vida, perda ou doença.
Mas, na prática, o testamento é um instrumento de planejamento e cuidado e, por isso, pode (e deve) ser feito enquanto está tudo bem.
Saber quando é o momento certo para fazer um testamento depende menos da idade, e mais da vontade de ter clareza, segurança e controle sobre o futuro do que você construiu.
O que é um testamento, afinal?
O testamento é um documento formal, previsto no Código Civil, em que uma pessoa expressa sua vontade sobre como deseja que seus bens sejam distribuídos após o falecimento, ou sobre outras disposições de caráter pessoal.
Diferente do que muitos imaginam, fazer um testamento não significa abrir mão dos bens em vida.
Quem faz o testamento continua sendo o titular de seu patrimônio, podendo usá-lo, vendê-lo ou administrá-lo normalmente, ou seja, as disposições do testamento só produzem efeito após o falecimento.
Essa característica torna o testamento um instrumento muito mais flexível e seguro do que se imagina, e uma ferramenta importante dentro de um bom planejamento sucessório.
O momento certo: quando há vontade de ter clareza e controle
O melhor momento para fazer um testamento é quando você deseja ter clareza e controle sobre o que vai acontecer com o que é seu e com quem você ama.
O fato é que não existe uma “idade ideal” para isso. O testamento pode ser feito por qualquer pessoa maior de 16 anos, capaz e em plena posse de suas faculdades mentais. Em outras palavras, o momento certo é o momento em que você quer se organizar.
É quando você sente necessidade de garantir que suas decisões e seus valores sejam respeitados, sem deixar essa responsabilidade nas mãos de terceiros.
E o mais importante: o testamento pode ser alterado ou revogado a qualquer momento. Isso significa que ele acompanha as mudanças da vida: novos relacionamentos, novos bens, filhos, empresas, imóveis, etc.
Planejamento para cada fase da vida
O testamento pode ser útil em diferentes momentos e contextos. Mas o tipo de planejamento ideal e recomendado pode mudar conforme a fase da vida e a estrutura patrimonial da pessoa. Exemplos:
Para quem é mais jovem
Quando uma pessoa mais jovem busca um planejamento sucessório, o testamento é muitas vezes o instrumento mais indicado, pois ele permite que a pessoa organize suas intenções, mas sem transferir os bens de imediato, mantendo total autonomia sobre o próprio patrimônio.
Além disso, por ser revogável, o testamento oferece flexibilidade: se a vida mudar (e ela sempre muda), é possível ajustar as disposições, incluir novos bens, modificar herdeiros, ou até cancelar tudo e recomeçar.
Esse formato é ideal para quem ainda está em fase de crescimento pessoal e profissional, e sabe que o patrimônio pode se alterar bastante ao longo dos anos.
Para quem está em idade mais avançada
Quando o planejamento é feito por uma pessoa mais idosa, a situação costuma ser diferente. O patrimônio, em geral, já está mais consolidado e não deve sofrer grandes alterações.
Nesses casos, pode ser viável considerar uma partilha em vida, por meio de uma doação com reserva de usufruto, por exemplo.
Essa modalidade permite antecipar a partilha entre os herdeiros, evitando conflitos e facilitando o processo sucessório.
Mas ela exige um passo importante: abrir mão da propriedade dos bens transferidos, ainda que o doador mantenha o direito de uso (o usufruto).
Por isso, o ideal é avaliar cada caso. Nenhum desses exemplos representa uma regra geral ou substitui uma consulta com profissional especialista.
Para quem está em uma fase da vida em que a estabilidade financeira e emocional já é maior, a partilha em vida pode ser mais tranquila.
Já para quem ainda está construindo, empreendendo ou investindo, o testamento é o caminho mais seguro e adaptável.
Porém, dependendo do caso concreto, a resposta pode ser totalmente diferente. Não existe receita de bolo.
O testamento público: segurança e durabilidade
Outro ponto importante é o tipo de testamento escolhido. Existem algumas modalidades: público, particular e cerrado. Mas, de forma geral, o testamento público é o mais seguro e o mais utilizado.
Ele é feito em cartório, com acompanhamento do tabelião e testemunhas, e fica registrado oficialmente, o que impede que se perca com o tempo. Dessa forma, mesmo que ninguém próximo saiba da existência do testamento, ele poderá ser localizado por meio de uma busca no Colégio Notarial do Brasil, garantindo que a vontade do testador seja cumprida. Vale lembrar, que, apesar do nome, o testamento público não pode ser acessado por ninguém além do testador até o seu falecimento, garantindo a privacidade.
Esse é um detalhe essencial: um testamento particular pode se perder, ser esquecido, contestado ou até não ser encontrado pelos herdeiros.
Por isso, o testamento público é a melhor escolha para quem busca segurança e validade jurídica.
Planejar é um ato de cuidado
Mais do que uma decisão patrimonial, fazer um testamento é um ato de amor, responsabilidade e tranquilidade. É escolher com consciência o destino do que você construiu, evitar conflitos entre pessoas queridas e deixar tudo resolvido — do jeito que você deseja.
Fazer um testamento não é falar sobre morte.
É falar sobre vida, cuidado e paz de espírito.
O momento certo é enquanto está tudo bem, quando há tempo, lucidez e liberdade para decidir com calma, e com a orientação jurídica adequada.
Porque planejar não é sobre controlar o futuro, é sobre garantir que ele aconteça com serenidade.